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🌊⌛ Desde 1632, a história registra grandes enchentes em Pernambuco. Umas de maiores, outras de menores proporções, mas todas causando muitos danos à população. Depois das de 1970, houve pressão para que os governos estadual e federal tomassem providências no sentido de proteger o Recife das cheias.
Uma das providências seria a construção de barragens. Em 1973, foi inaugurada a de Tapacurá e a população acreditava que apenas ela seria a solução para evitar as enchentes. Em 1975, para surpresa de todos, houve uma enchente que foi considerada a maior calamidade do século passado.
Aconteceu entre os dias 17 e 18 de julho, quando 80% da população do Recife ficou debaixo d’água, 25 municípios da bacia do rio Capibaribe também foram atingidos, morreram 107 pessoas e outras milhares ficaram desabrigadas. Ferrovias foram destruídas, pontes desabaram, casas foram arrastadas pelas águas. Por terra, o Recife ficou isolado do resto do País durante dois dias.
Quando as águas começaram a baixar, as pessoas, fisicamente e psicologicamente fragilizadas, foram aos poucos avaliando os prejuízos e retomando suas vidas. Foi nesse cenário que, por volta das 10 horas da manhã do dia 21 de julho, surgiu o boato de que a barragem de Tapacurá (que tem capacidade para acumular 94 milhões de metros cúbicos de água e nada sofrera com a enchente) havia estourado e que a cidade seria destruída pelas águas em poucas horas.
“Tapacurá estourou!” O alarme anônimo provocou pânico em toda a cidade e o Recife enlouqueceu. O grito ecoou de boca em boca, começou a correria de um lado para outro em busca dos parentes e amigos para fugirem ou morrerem juntos. Motoristas gritavam para os pedestres: “Fujam! A barragem estourou!” Algumas pessoas corriam no sentido cidade-subúrbio, outros no sentido subúrbio-cidade. Uns subiam em árvores, outros subiam até os últimos andares de edifícios, grande parte simplesmente abandonava os postos de serviços em comércio, escritórios e até bancos. Lojas, colégios e repartições públicas ficaram vazias.
Carros trafegavam em velocidade na contramão. Ônibus eram invadidos fora das paradas por aflitos fugitivos, ao mesmo tempo em que passageiros apavorados saltavam pelas janelas. Mulheres em pleno ataque de nervos gritavam de mãos estendidas para o alto. “Salve-se quem puder!”.
Pedestres imploravam por carona, mesmo sem saber o destino do veículo, mas apenas para sair dali. Das ruas transversais saiam multidões alarmadas, gente carregando roupas, aparelhos de televisão, bujões de gás, colchões. A loucura era tal, que até doentes internados em hospitais abandonaram ambulatórios e enfermarias, alguns vestidos com os característicos camisolões, para se juntarem à massa em fuga.
O governador do estado, José Francisco de Moura Cavalcanti, em seu gabinete, cuidava das ações de assistência aos municípios em que ele decretara estado de calamidade pública em consequência das inundações. Quando soube da notícia, convocou o coronel Geraldo Pereira de Lima, chefe da Casa Militar, para saber o que estava havendo. Ainda sem saber que se tratava de uma mentira, o governador afirmou “Agora não é mais tragédia, agora é mortandade.”
Feita a comunicação com a administração da barragem, constatou-se que a situação era normal. O governador dirigiu-se para o meio da confusão, em frente ao Diretório Central dos Estudantes, na rua do Hospício. Os estudantes choravam, agitados. O governador disse a eles que a notícia da barragem não era verdadeira, que se Tapacurá houvesse estourado ele não estaria ali naquele momento. Os estudantes se acalmaram e tomaram as ruas gritando para o povo que a notícia sobre o estouro de Tapacurá era falsa, que era boato, que estava tudo bem.
Mas, somente após os insistentes boletins divulgados pelas emissoras de rádio e televisão, alguns feitos pelo próprio governador desmentindo o boato, a vida da cidade reordenou-se aos poucos.
35 anos depois, em 5 de maio de 2011, um novo boato sobre a barragem de Tapacurá foi disseminado. Suponhe-se que tudo começou por volta das 12h, quando chegou às repartições públicas em Recife a notícia de que o expediente seria reduzido (até as 16h) porque a maré começaria a subir, e as ruas possivelmente ficariam alagadas. A partir daí, o boato começou a se espalhar e chegou aos Trending Topics do Twitter com postagens como: “As comportas de Tapacurá e da Barragem de Carpina foram abertas e a cidade vai ser toda alagada“, “Tapacurá rompeu. Fujam do Recife“, “Deus ajude aos meus parentes em São Lourenço da Mata pois a barragem de Carpina transbordou“.
Por volta das 16h, shoppings da Grande Recife fecharam suas portas, além de Faculdades como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Católica e Faculdade Mauricio de Nassau, que liberaram seus alunos das aulas noturnas. A situação estava tão crítica no meio da tarde que o Governador Eduardo Campos concedeu entrevista em diversas rádios para acalmar a população com informações verdadeiras do que estava ocorrendo nas barragens do Estado.
O Cine PE (Festival de Cinema de Pernambuco) teve sua exibição interrompida no meio para que a organização desse um aviso: "O Governo do Estado pedia para o festival encerrar as atividades mais cedo na noite de ontem, pois voltaria a chover forte e as ruas ficariam alagadas". Mesmo com a produção do evento pedindo para “não haver pânico”, o contrário foi alcançado com diversas pessoas saindo correndo do Centro de Conveções de Pernambuco.
A verdade é que toda barragem é projetada para verter água (sangrar) quando chega num limite de segurança. Apenas o rio Capibaribe e seus afluentes podem subir o nível das águas nas região metropolitana e centro da capital pernambucana. Com a chuva causando rápida elevação do nível das barragens Goitá, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, e Tapacurá, no Grande Recife, a Superintendência de Projetos de Recursos Hídricos (na época responsável pelo gerenciamento aquífero do Estado - hoje feito pela APAC) alertou apenas para a possibilidade de iniciar o processo de vertimento da barragem, que transcorreu dentro das normas de segurança exigidas para este tipo de procedimento. Dentre as barragens que compõem o Sistema de Contenção de Cheias do Rio Capibaribe, a única que não verteu foi a barragem de Carpina, que estava apenas com 60% da sua capacidade.
A barragem de Tapacurá, inaugurada em 1973, atualmente é responsável por 65% do abastecimento de
todo o Grande Recife. O último processo de vertimento na barragem de Tapacurá ocorreu em 07 de junho de 2022. Os reservatórios que compõem o Sistema de Contenção de Cheias do Rio Capibaribe, são monitorados diariamente pela equipe técnica da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) e da Compesa. Reforça-se que os reservatórios formam o sistema, composto ainda pelas barragens de Jucazinho (Surubim), Carpina (Lagoa do Carro), Tapacurá (São Lourenço da Mata) e Goitá (Paudalho). Elas protegem os 45 municípios instalados ao longo do leito do Capibaribe e, juntas, podem reter cerca de 750 milhões de m³ de água.
Guardado as devidas proporções de tempo e espaço, podemos dizer que o boato sobre o rompimento de Tapacurá em 1975 foi nossa versão da invasão de marte transmitida por Orson Welles em 1938. E isso numa época em que não existiam redes sociais, nem internet, apenas pela força da propagação de fakes news, termo aliás, que nem existia quando os recifenses se apavoraram ante à ameaça da destruição completa da cidade com uma nova enchente. Fica a lição: nunca acredite em boatos, procure sempre as fontes de informação oficiais e com credibilidade para isso. 🤨 📺📻📰 🧐
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🧭 Concepção e elaboração do post 📝 José Ricardo 🖋 professor e historiador.
📖 Fontes consultadas:
💻 Portais G1 e NE10
🖱 Site da FUNDAJ - Fundação Joaquim Nabuco
📰 Jornais Diario de Pernambuco e Folha de Pernambuco
👉 Para saber mais sobre a Tragédia de Jardim Monte Verde, acesse:
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