terça-feira, 15 de agosto de 2023

HOJE NA HISTÓRIA - 15.08.23 - 200 Anos da Adesão do Pará à Independência do Brasil

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🌊👮‍♂️💣⛵ Num dia como hoje, 15 de agosto, há exatos 200 anos, a cidade de Belém, capital da província do Grão-Pará, capitulava (se rendia) ao governo imperial recém-proclamado por D. Pedro I às (quase) margens do riacho Ipiranga em São Paulo. Apesar da emancipação política anunciada no 7 de setembro de 1822, nem todas as províncias brasileiras aderiram ao projeto político articulado pelas províncias do sul-sudeste, pensado e decidido nos salões maçônicos com o apoio das oligarquias escravistas, que pretendiam evitar uma emancipação à maneira haitiana, onde escravos e nativos protagonizaram o processo separatista.

As províncias do Norte, formadas pelo Maranhão, Piauí e pelo Grão-Pará, estavam mais ligadas a Portugal do que às províncias do Sul. Assim, quando foi proclamada a Independência, preferiram se manter fiéis a Lisboa. No seu período áureo, a província do Grão-Pará sua abrangia os atuais Estados do Maranhão, Piauí, Pará, Amazonas, Amapá e Roraima. Na província do Grão-Pará, mesmo antes da Independência já havia lutas entre a população e a junta governativa. O ano de 1823 marcou o auge dos conflitos.

A verdade é que a província do Grão-Pará sempre se mostrou um como um território à parte da colônia brasileira, até por conta de também fatores geográficos, pois por ser mais ao norte do país, era muito mais fácil para os paraenses se reportarem diretamente à Lisboa, se valendo das correntes marítimas, do que para o Rio de Janeiro, então capital brasileira. Para se ter uma ideia, as notícias vindas de Portugal chegavam primeiro em Belém, maior cidade do Grão-Pará, do que no Rio de Janeiro.

Não é de se estranhar que foi o Grão-Pará a primeira província brasileira a aderir à causa da Revolução Liberal do Porto de 1820, inclusive com a eleição precipitada de dois representantes para as Cortes de Lisboa: o militar Domingos Simões da Cunha e o estudante Felipe Alberto Patroni, que é considerado o primeiro constitucionalista do Brasil, e junto com Simões da Cunha e outro sócio eles compraram uma tipografia em Lisboa e conseguiram mandar para Belém, passando a publicar o primeiro jornal da província: "O Paraense", que defendia a separação do Grão-Pará em relação a Portugal e a junção do Grão-Pará com a província do Rio Negro. Além de criticar duramente o comandante de armas da província: José Maria de Moura. Com tudo isso, as tensões na província do Grão-Pará tenderiam apenas a crescer e explodiriam com força em 1823, um ano após a proclamação da Independência em São Paulo, por D. Pedro.

A esquadra imperial sob o comando do capitão inglês John Pascoe Greenfell, quando ancorou seu navio – o brigue São Miguel que fora capturado em São Luís no Maranhão e rebatizado com o nome de Maranhão – na baía do Guajará em frente à cidade de Belém, capital da província do Grão-Pará, e ameaçou bombardear a cidade e sitiar o seu porto. Greenfell mandou um emissário ao governo paraense com um ofício de Thomas Cochrane, almirante escocês que havia debelado a resistência no Maranhão.

Os portugueses que resistiam à Independência no Grão-Pará ficaram apreensivos das consequências caso desobedecem às intimidações de Greenfell e Cochrane; mas o que eles não sabiam era que apenas um navio estava mesmo em Belém (os demais tinham ficado para trás, no Maranhão). O Grão-Pará foi a última província a reconhecer a Independência do Brasil, e o fez em 15 de agosto de 1823, após uma assembleia no Palácio Lauro Sodré, sede da Colônia Portuguesa à época, atual sede do Governo do Pará, encerrando assim o ciclo de revoltas e conflitos que formaram as chamadas Guerras pela Independência do Brasil – que não corresponde ao mito disseminado de que a Independência se deu de forma pacífica e ordeira.

A capitulação teve um preço amargo e cruel. A instabilidade política na província provocou uma convulsão social e Belém mergulhou numa caos com cenas de vandalismo por toda a cidade. Nem Greenfell escapou da violência, sendo esfaqueado nas costelas por um português (ele sobreviveu ao atentado).

Mas um dos episódios mais fatídicos da Guerra pela Independência no Grão-Pará se deu em 20 de outubro de 1823, quando 256 pessoas foram presas pelo próprio Greenfell no porão do brigue São José Diligente (depois rebatizado como brigue Palhaço). Os prisioneiros ficaram amontoados uns sobre os outros, e o comandante do navio ordenou que fechassem as escotilhas e ficassem apenas uma fresta aberta para entrar ar. Sem ar e com sede, bateu o desespero nos prisioneiros, que lutavam para sair do porão, sendo recebidos a tiros e com pás de cal virgem sobre eles pelos soldados.

Após duas horas, nenhum barulho foi ouvido, e apenas na manhã do dia seguinte se teve noção da tragédia: dos 256 que estavam no porão, apenas 4 estavam vivos, e foram socorridos, porém apenas um conseguiu sobreviver, um rapaz de 20 anos. Os cadáveres foram retirados do navio e transportados para a margem esquerda da baía do Guajará onde foram sepultados numa vala comum. Foi o primeiro massacre do Estado brasileiro contra seu próprio povo no processo de emancipação política. Greenfell continuou na Marinha brasileira, foi julgado, mas inocentado da tragédia no brigue Palhaço. 😠⚖️

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🧭 Concepção e elaboração do post 📝 José Ricardo 🖋 professor e historiador.

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