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👊 🎶 Hoje completamos quarenta anos de um dos episódios mais emblemáticos do final da ditadura militar brasileira: o ATENTADO DO RIOCENTRO. Naquela noite aproximadamente 20000 pessoas estavam reunidas no show do dia dos trabalhadores promovido pelo Centro Brasil Democrático (Cebrade) com grandes nomes do cancioneiro popular, como Elba Ramalho, Alceu Valença, Chico Buarque, Beth Carvalho, Gal Costa, Gonzaguinha e Luís Gonzaga. Por volta das 21:15 uma bomba explodiu no interior do Puma marrom metálico de placa OT-0297, que estava no estacionamento, matando o sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário, de 35 anos, que a trazia no colo. A bomba também feriu gravemente o motorista e dono do carro, o capitão pára-quedista Wilson Luís Chaves Machado, de 33 anos, que servia no Departamento de Operações Internas — Centro de Operações para a Defesa Interna (DOI-CODI) do I Exército.
Às 21:45h uma segunda bomba explodiu na casa de força do Riocentro, lançada por cima do muro por militares do Exército, mas não chegou a provocar um blecaute. Minutos depois, um Opala branco estacionado num pátio reservado deixou o local, com seu ocupante gritando para um guarda: “Vocês ainda não viram nada! O pior vai acontecer lá dentro!” Gonzaguinha, cantor que performava no palco ao final do evento, ainda informou ao público: “pessoas contra a democracia jogaram bombas lá fora para nos amedrontar”.
O atentado ao Show no Riocentro seria mais um dentre a série de 46 atentados ocorridos nos oito primeiros meses de 1980 por grupos contrários à distensão dos militares no poder e contrários à abertura política iniciada por Ernesto Geisel e continuada por João Baptista Figueiredo, dentre eles podemos citar a carta-bomba detonada na sede da OAB no Rio de Janeiro que matou Lyda Monteiro da Silva, secretária da presidência da entidade; e outra carta-bomba no gabinete do vereador do PMDB Antônio Carlos de Carvalho, ferindo gravemente José Ribamar de Freitas, funcionário do escritório. Além de bancas de jornais e revistas que vendiam jornais considerados "subversivos" que foram explodidas pelos grupos de extrema-direita.
Antes do início do show, nos painéis de propaganda plantados no Riocentro foram feitas pichações com a sigla da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), organização de esquerda extinta em 1973. Desde o final da tarde, algumas placas indicativas da direção do centro de convenções também apareceram pichadas com essa sigla. É claro que o objetivo dos executores da ação era criminalizar as esquerdas pelo atentado, mas a farsa falhou consideravelmente.
Alguns fatos credenciaram as suspeitas da armação: no final da tarde do dia 30 de abril de 1981, os funcionários de um restaurante na estrada Grajaú-Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, suspeitaram de um grupo de 15 fregueses armados que examinavam um mapa. Acreditando serem assaltantes de banco, os garçons chamaram a polícia, que apenas anotou as placas dos cinco carros, entre elas a do Puma OT-0297. Nessa mesma tarde, de Brasília, o coronel Newton Cerqueira, comandante da Polícia Militar (PM) carioca, telefonou para o chefe de seu estado-maior, o tenente-coronel Fernando Antônio Pott, ordenando-lhe que suspendesse o policiamento do show daquela noite no Riocentro e mantivesse apenas 60 homens de prontidão no quartel para qualquer emergência. No Riocentro, também na tarde do dia 30, a diretora de operações Maria Ângela Lopes Campobianco afastou o tenente César Wachulec da chefia da segurança do espetáculo, alegando que o funcionário tinha problemas de alcoolismo, e encarregou-o do controle das bilheterias. O lugar de Wachulec foi assumido por um mecânico sem experiência em segurança. Um mês antes, Maria Ângela já havia demitido o outro chefe de segurança.
Minutos antes do início do espetáculo, o guarda do estacionamento reservado aos ônibus viu dois carros atravessarem o canteiro e se dirigirem para o local, onde, depois, explodiria o Puma. Às 21 horas, quando começou o show, apenas cinco dos 28 portões estavam abertos. Os outros teriam sido trancados, o que impediria uma saída rápida dos espectadores em caso de emergência, provocada, por exemplo, por um corte de luz. A ideia era clara: provocar um tumulto que culminasse numa tragédia.
No dia seguinte à explosão, ao mesmo tempo que os jornais começavam a noticiar o episódio, o sargento Guilherme do Rosário foi enterrado com honras militares. O general Valdir Muniz, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, deu uma entrevista na qual qualificou o ocorrido como uma ação terrorista contra os dois militares. O coronel Newton Cerqueira, por sua vez, justificou a suspensão do policiamento do Riocentro no dia do show por se tratar de um evento da iniciativa privada. Menos de 24 horas depois do atentado, o ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel, declarava que “a bomba explodiu no governo”.
Foi apenas em 1999 que o caso foi reaberto pela procuradora da República Gilda Berer. O sargento Guilherme Pereira do Rosário e o capitão Wilson Dias Machado, o ex-chefe da Agência Central do SNI, general Newton Cruz, e o ex-chefe da agência do SNI no Rio, coronel Freddie Perdigão, foram responsabilizados pelo crime. O Superior Tribunal Militar, no entanto, fez com que o caso fosse, novamente, arquivado, considerando que a decisão anterior decidiu por enquadrar o atentado à Lei da Anistia. Como consequência disso, os envolvidos não sofreram com nenhuma punição.
O caso foi movido pelo Ministério Público Federal e novamente paralisado pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, em 2014. Naquele ano, o jornal O Globo também publicou um documento que mostrava que o presidente João Figueiredo e o general Danilo Venturini, chefe do Gabinete Militar da Presidência já sabiam do plano um mês antes dele acontecer. Mas a movimentação não parou por aí. Neste ano, em 28 de agosto, o ministro Rogério Schietti votou por sua reabertura. Mas, em 25 de setembro, por 5 votos a 2, a 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça decidiu negar a solicitação, fazendo com que o caso permaneça indefinido e os responsáveis não julgados pelo atentado. Cinco anos depois do atentado no Riocentro, os militares deixavam definitivamente o governo após 21 anos no poder. 👋🔰🇧🇷
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🧭 Concepção e elaboração do post 📝José Ricardo 🖋️ professor e historiador.
📖 Créditos do texto 🖱️ Sites da FGV-CPDOC, Revista Aventuras na História, e Memória Globo.
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