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🌞🌵 Quem é do Cariri, no Ceará, com certeza sabe quem foi José Lourenço Gomes da Silva, o paraibano que saiu cedo de casa, em Pilões de Dentro, para lidar com gado nas fazendas da região, e que, em 1890, ao reencontrar a família em Juazeiro do Norte, no sertão cearense, conquistou a amizade e a liderança de padre Cícero Romão Batista, o Padim Ciço. Depois de integrar seitas que rezavam em cemitérios pelas almas do Purgatório e que praticavam autoflagelação para se purificar dos pecados, Lourenço arrendou o sítio Baixa Dantas, no Crato, e formou uma comunidade autossustentável e ecológica. Lá, entre 1894 e 1926, foi desenvolvida a primeira experiência de trabalho coletivo igualitário do Brasil.
Mas foi lá que ocorreu, também, um dos episódios mais sangrentos da luta pela posse da terra. Crime que, apesar do pouco conhecimento da sociedade, é considerado por ativistas dos direitos humanos comparável à Guerrilha do Araguaia. Trata-se do Massacre do Caldeirão, praticado por tropas do Exército e da Polícia Militar do Ceará, em 10 de maio de 1937. Naquele dia, foi dizimada a comunidade de camponeses católicos do Sítio da Santa Cruz do Deserto ou Sítio Caldeirão, que era liderada pelo beato José Lourenço. Acostumados a sobreviver com o que produziam dividido de forma igualitária, frequentando escola e igreja da comunidade, os humildes e destemidos trabalhadores rurais foram encarados como “socialistas periculosos” e, como tal, assassinados de forma covarde.
O ataque criminoso à comunidade começou com um bombardeio aéreo, seguido de assalto das tropas de infantaria, no solo. Os militares com armas potentes, como metralhadoras, fuzis, revólveres e pistolas, além de foices, facas e facões, não deram a mínima chance de reação, sequer de fuga, a homens, mulheres, adolescentes, velhos e crianças, inclusive doentes. O assassinato coletivo de cerca de setecentos camponeses ocorreu na localidade de Mata Cavalos, na Serra do Cruzeiro, ou Chapada do Araripe. Em nome de fazendeiros e coronéis do sertão, as forças federais e do estado do Ceará agiram, covardemente, como juízes e algozes. Alguns meses depois, José Geraldo da Cruz, o ex-prefeito de Juazeiro do Norte, localizou dezesseis crânios de crianças.
Praticado por forças do Estado, trata-se de “crime de lesa-humanidade”, um genocídio, portanto, imprescritível, segundo a legislação brasileira e acordos e convenções internacionais. A organização não governamental SOS – Direitos Humanos, com sede em Fortaleza, ajuizou em 2008 ação civil pública na Justiça Federal contra a União e o estado do Ceará, para requerer o mínimo de justiça.
A ação solicitou informações sobre a localização da cova rasa coletiva onde foram sepultados os camponeses assassinados, a exumação dos restos mortais e identificação através de dna, para sepultamento digno. Foi requerido também que documentos do massacre fossem liberados ao público e o crime incluído nos livros de história do Brasil. Aos descendentes das vítimas e sobreviventes, foi estabelecida indenização no valor de 500 mil reais. O processo foi distribuído para o juiz substituto da 1a Vara Federal em Fortaleza, e depois, redistribuído à 16a Vara Federal, em Juazeiro do Norte, onde acabou extinto sem julgamento do mérito, em 2009.
Para fugir da exploração dos fazendeiros, até 3 mil camponeses passaram pela comunidade igualitária do Caldeirão. O beato José Lourenço morreu de peste bubônica, aos 74 anos, em Pernambuco, e teve o corpo levado para sepultamento em Juazeiro do Norte. ✝️😭⚰️
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🧭 Concepção e elaboração do post 📝José Ricardo 🖋️ professor e historiador.
📖 Créditos do texto - Nunes, Valentina. 365 Dias Que Mudaram A História Do Brasil . Planeta. Edição do Kindle.
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