sexta-feira, 2 de julho de 2021

HOJE NA HISTÓRIA - 02.07.21 - 198 Anos do Final da Guerra de Independência na Bahia

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👊🇧🇷👊 Num dia como hoje, 2 de julho, há 198 anos, aos primeiros raios da aurora, entrava em Salvador pela Estrada das Boiadas, depois rebatizada como Estrada da Liberdade, as tropas do Exército Pacificador e do porto zarpava a esquadra portuguesa comandada por Madeira de Melo. Era o fim de uma guerra que durara mais de um ano entre brasileiros, defensores da separação entre Brasil e Portugal, e militares portugueses que estavam concentrados na antiga capital da Colônia. Não foi a primeira vez que Salvador se rebelara contra a dominação portuguesa. Em 1798 explodiu na cidade a Conjuração Baiana, mais conhecida como Revolta dos Alfaiates ou Revolta de Búzios, sufocada com a morte de seus principais líderes, em sua maioria, negros, militares e alfaiates.

As tensões entre portugueses e brasileiros aumentaram a partir de 1821 quando a coroa portuguesa resolveu trocar o comandante da armas brigadeiro Manuel Pedro pelo tenente-coronel Inácio Luís Madeira de Melo. Em 12 de novembro de 1821, soldados portugueses atacaram a capital baiana. Manuel Pedro foi preso e mandado para Lisboa. A reação brasileira se deu em 18 e 19 de fevereiro de 1822 com a Revolta no Forte de São Pedro. Os brasileiros foram derrotados e fugiram pelas ruas de Salvador, indo refugiar-se no Convento de Nossa Senhora da Lapa. As tropas portuguesas queriam invadir o convento, mas foram heroicamente impedidos pela Abadessa Sóror Joana Angélica, que às portas do convento teria bradado: "Apartai-vos servos do maldito, daqui só passarás se for por cima do meu cadáver". Os soldados não hesitaram em matar a golpes de baioneta a freira, que se tornou a primeira mártir da Guerra pela Independência na Bahia. Ao todo, mais de 300 mortos mancharam de sangue as ruas de Salvador.

Após ser tomada pelos portugueses de Madeira de Melo, a cidade sofreu uma onda sistemática de violência cometidas por ambos os lados. Os soldados portugueses formaram milícias armadas que atacavam os brasileiros suspeitos de insubordinação e conspiradação, chamadas de "mata-cabras'; enquanto que os soldados baianos dissidentes e derrotados do forte de São Pedro, formaram os "mata-marotos" atacando portugueses em Salvador, Cachoeira e em áreas do Recôncavo. A população mais abastada de Salvador abandonou a cidade e fugiu para a região do Recôncavo, onde estava concentrada a maioria dos engenhos de açúcar.

A Câmara da vila de Santo Amaro da Purificação foi a primeira a reconhecer a autoridade de D. Pedro I em 14 de junho 1822 após uma consulta dos deputados baianos participantes das Cortes de Lisboa. A Câmara de Cachoeira viria a seguir o exemplo. No dia 25 de junho de 1822, após a proclamação, lideranças da cidade participaram de uma missa comemorativa (Te Deum) e a população foi às ruas comemorar o feito. Mas nas águas do rio Paraguaçu, uma canhoneira portuguesa estava a posta e bombardeou a cidade, matando um popular que estava apenas tocando tambor (ele entrou para a história com o nome de "tambor solitário"). A cidade reagiu à bala contra os portugueses, sem grandes chances de defesa.

Os baianos formaram então uma coalização que seria o berço embrionário do futuro Exército Pacificador. Eram 1500 homens, membros da aristocracia rural, militares dissidentes, voluntários recrutados em vilas e engenhos do Recôncavo, negros escravos e libertos, índios flecheiros e vaqueiros. Destes, o mais famoso foi o Batalhão dos Periquitos, fundado por José Antônio da Silva Castro, avó de Castro Alves e conhecido como o "Periquitão". Sob suas ordens, serviu Maria Quitéria de Jesus Medeiros, que se alistou disfarçada de homem e com o nome de "soldado Medeiros", após fugir de casa para abraçar a causa libertária. Maria Quitéria teve partipação fundamental na Batalha de Pirajá, onde bravamente conseguiu aprisionar vários portugueses.

A estratégia adotada pelos baianos era sitiar a cidade de Salvador, bloqueando as saídas restantes por terra entre Pirajá e Itapuã, e por mar pela ilha de Itaparica, impedindo assim o abastecimento de farinha que vinha do recôncavo e da carne que vinha do sertão, base da alimentação da época. Madeira de Melo preferiu intimidar o reconcavo e impedir a exportação de açúcar. Enquanto os soldados portugueses dispunham de mais armas e munição, faltava-lhes suprimentos e alimentos; ao contrário dos brasileiros que tinham poucos recursos bélicos, mas estavam abastecidos de comida. Era a guerra da carência contra a fome.

O primeiro revés dos brasileiros foi sentido no ataque à ilha de Itaparica, quando 80 soldados liderados pelo capitão 30 Diabos cometeu atrocidades contra a população local. Os portugueses inutizaram os canhões da Fortaleza de São Lourenço. No Recôncavo, Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque (Coronel Santinho) – futuro Visconde de Pirajá – juntou milicias locais, parte das antigas tropas dos brasileiros que fugiram apra o recôncavo e organizou as tropas que formariam o Exército Pacificador. 

D. Pedro nomeou Pedro Labatut para comandar a resistência brasileiras. Labatut já havia participado do exército de Simón Bolivar nas guerras pela independência na Colômbia. Antes de chegar à Salvador, Labatut contou com 700 homens vindos de Sergipe, Pernambuco e Alagoas, 200 da Paraíba, 800 do batalhão do Imperador e 1500 baianos que se concentraram na região de Pirajá para bloquear as estradas de acesso à Salvador e ao Recôncavo.

Em 8 novembro de 1822 ocorreu a Batalha de Pirajá, a maior batalha terrestre da guerra pela independência, com 5000 combatentes de ambos os lados que durante 5 horas lutaram corpo a corpo armados de arcabuzes, bacamartes, baionetas, arco e flechas, facões e outras armas artesanais. Os portugueses estavam avançando e comandante Barros Falcão ordenou que se tocasse a retirada das tropas, mas o corneteiro Luís Lopes tocou "cavalaria, avançar e degolar", o que levou os portugueses ao desespero, mesmo sem o Exército pacificador ter uma cavalaria na época. Até hoje, se discute se o gesto de Lopes, que garantiu a vitória brasileira em Pirajá foi proposital ou causualidade provocada por um erro de interpretação. O fato é que sem Lopes o resultado teria sido outro.

Em 7 de janeiro de 1823 os portugueses tentaram reconquistar a Vila de Itaparica, mas encontraram uma resistência mais aguerrida. Os ilhéus fizeram trincheiras e revidaram com peças de artilharia fabricadas artesanalmente por eles. Na resistência de Itaparica destacou-se a negra e marisqueira Maria Felipa, que comandou seus pares contra os portugueses atacando-os com surras de cansanção (popularmente conhecidas como urtigas). Maria Felipa só aparece uma única vez nos documentos oficiais, mas a tradição oral manteve a memória dela viva nas lembranças da guerra na Bahia.

Dois meses após a derrota em Pirajá, 9 navios de guerra brasileiros comandados por Lorde Thomas Cochrane atacaram 13 navios portugueses comandados pelo chefe de esquadra João Félix na Baía de Todos os Santos. Após esse confronto, a situação dos portugueses ficou insustentável. Nada mais restava a não ser a rendição, ocorrida há 198 anos, na madrugada de dia 2 de julho de 1823. Aos poucos os focos de resistência iam cedendo um a um. Assim foi no Maranhão (28 de julho), no Grão-Pará (15 de agosto) e antecedendo aos baianos, no Piauí em 13 de março, após a derrota na Batalha de Jenipapo.

Até hoje, o 2 de julho é um feriado estadual na Bahia, onde se celebram com grandes festas, que misturam civismo, sincretismo religioso, folclore local e muita animação popular. O povo é o principal protagonista na festa, representado pelo Caboclo e pela Cabocla que desfilam pelas ruas soteropolitanas. O Hino da Bahia, composto por José dos Santos Barreto, faz referência direta à luta dos baianos por liberdade, terminando com a efusiva frase: "com tiranos não combinam, brasileiros, brasileiros corações". Salve Maria Quitéria, Maria Felipa, Corneteiro Lopes, Joana Angélica! Viva 2 de Julho! 👏👏👏🇧🇷🇧🇷🇧🇷🇧🇷

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🧭 Concepção e elaboração do post  📝José Ricardo 🖋️ professor e historiador.

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