sexta-feira, 20 de maio de 2022

HOJE NA HISTÓRIA - 19.05.22 - Morre o Padre Reginaldo Veloso

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😓🖤 O catolicismo pernambucano e a Igreja Católica no Brasil perderam na noite de ontem, dia 19 de maio, às 23:00 h. um de seus maiores baluartes e profetas do século XX. Ativista das causas sociais, membro engajado nas lutas populares, mas profundo seguidor de Cristo, e dono de um carisma social impecável, calou-se para sempre a voz que durante anos lutou pelo povo do Morro da Conceição: REGINALDO VELOSO, ex-padre, Mestre em Teologia e História, escritor, compositor e especialista em liturgia. Após meses de internação, ele não resistiu às complicações decorrentes de um câncer.

José Reginaldo Veloso de Araujo nasceu em Piquete, município de São José da Lage, zona da mata de Alagoas, no dia 3 de agosto de 1937. Seu era um pequeno comerciante e a mãe doméstica. Após a morte dela, quando ele tinha 8 anos, ele passou a conviver com a avó paterna, que era muito religiosa. Aos 11 anos, seguiu para Palmeira dos Índios para cursar o atual ensino fundamental, no Ginásio Pio XII, com padres da Congregação Sagrado Coração de Jesus. Aos 13 anos veio para o Recife onde fez o curso ginasial científico e estudou filosofia e partiu para Roma em 1958, onde estudou Teologia e História da Igreja. Em 1961, foi ordenado padre, dois dias antes da conclamação do Concílio Vaticano II, retornando ao Brasil em 1968.

Quando retornou ao Brasil, Reginaldo Veloso sentiu a necessidade de aproximar a igreja das comunidades e ajudar as pessoas de forma mais efetiva, com conscientização política, abraçando a Teologia da Libertação e a opção preferencial pelos pobres pregada pelos religiosos desse segmento. Ele foi um dos fundadores do ITER - Instituto Teológico do Recife e um dos braços direitos de Dom Helder Câmara.

Veloso foi um dos divulgadores do documento “Eu Ouvi os Clamores do Meu Povo”, de 1973, durante a Ditadura Militar. O documento reivindicava trabalho para a multidão de desempregados da época e o atendimento de necessidades básicas, como moradia, transporte e outros direitos. 

Como resultado, o padre Reginaldo foi levado para interrogatório por agentes do Dops. Por conta disso, Reginaldo Veloso foi perseguido pela ditadura e chegou a ser preso para interrogatório. “Me despiram e colocaram numa jaula que tinha um metro e meio quadrado. Era um cubículo. Fui interrogado por três militares que queriam saber quem havia escrito o documento. Na época, coloquei nomes de figurões da extrema-direita como autores do texto”, contou, no documentário "Reginaldo Veloso: O Amor Mais Profundo" (lançado em agosto de 2020 em comemoração aos seus 83 anos de vida), curta-metragem de Daniela Kyrillos, que narra sua vida sacerdotal e de militância social e política. 

Reginaldo Veloso foi pároco por 10 anos da Paróquia de Santa Maria, na Macaxeira e, por 11 anos, da Igreja de Nossa Senhora da Conceição no Morro da Conceição, em Casa Amarela, entre 1978 e 1989, onde ficou conhecido pelo seu trabalho pastoral, seguindo orientação do Concilio Vaticano II e da Igreja latino-americana, associando fé e justiça social e apoiando os movimentos populares na luta pela superação da pobreza e da marginalização.

Após a renúncia de Dom Hélder Câmara, de quem era amigo pessoal e alinhado pastoralmente, ele foi destituído de suas funções sacerdotais em 1989 pelo arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho, substituto de Hélder e inimigo declarado da Teologia da Libertação. Cardoso empreendeu uma perseguição implacável aos padres progressistas que escolheram a "opção preferencial pelos pobres" e quando tentou tomar a Igreja do Morro da Conceição os próprios moradores esconderam a chave da igreja em protesto contra o afastamento de Veloso, e cantavam a plenos pulmões que "A chave, a chave, a chave eu não dou. A chave é de Pedro que foi pescador". A polícia foi chamada para arrombar as portas da Igreja. A chave da Igreja foi colocada num balão que foi soltado durante o protesto.

Afastado de suas funções sacerdotais, como celebrar missa, realizar matrimônios, e fazer batizados, Veloso optou por continuar no Morro da Conceição e não abandonar a luta junto aos menos favorecidos, seguindo o exemplo do bom pastor que não abandona seu rebanho, mas caminha lado a lado com ele. Ele deixou o ministério sacerdotal, mas continuou sua missão como cristão engajado, agora como Presbítero na Arquidiocese de Olinda e Recife.

Veloso também se destacou por seu trabalho litúrgico, no Setor de Música Litúrgica da CNBB. Deixou inúmeros cantos belíssimos, muitos dos quais cantados nas igrejas de todo o país, como o conhecido "Da Cepa Brotou a Rama" (baseado em Isaías 11,1-10), sendo também um dos organizadores do "Divino Ofício das Comunidades". Durante anos foi assessor de movimentos progressistas do catolicismo como as CEBs, o MAC e o MTC - Movimento de Trabalhadores Cristãos.

Pela sua importância na história da Igreja Católica na Arquidiocese de Olinda e Recife, Reginaldo Veloso foi agraciado com o título honorífico de Cidadão Pernambucano pela Assembleia Legislativa de Pernambuco que aprovou a proposta feita pelo deputado João Paulo, mas infelizmente ele não chegou a receber esta homenagem, pois já se encontrava internado desde o dia 15 de abril de 2022 para se tratar de um câncer na bexiga.

Casado desde 1994 com sua ex-secretária paroquial Edileuza Osório Pereira Veloso, Veloso deixou um único filho, João José. Quando questionado sobre seu casamento, dizia que "nunca precisei deixar de “ser padre”, melhor dizendo, nunca deixei de exercer o ministério presbiteral, para o qual fui ordenado em dezembro de 1961, há 60 anos".

Reginaldo nunca se curvou as doutrinas conservadoras e autoritárias da Igreja, pelo contrário, fez de fato a opção preferencial pelos pobres, esteve sempre com as excluídas e os excluídos, trabalhava com o povo, morava no morro, compreendia o clamor de sua gente, foi preso e perseguido no período da ditadura militar, mas nunca se calou. Proclamava a Boa Nova em todos os cantos.

Seu ministério no Morro da Conceição foi marcado pelo ativismo social, pela luta por direitos e justiça. Se hoje a comunidade do Morro da Conceição é tão esclarecida e empoderada, deve isso, principalmente, ao trabalho de padre Reginaldo, um incansável lutador pelos direitos humanos. Ele vai, mas deixa um grande legado de luta, fé e esperança! Descansa em paz guerreiro. Uma parte importante da História da Igreja Católica na Arquidiocese de Olinda e Recife encerra hoje seu ciclo. Adeus profeta do povo do morro. 😞😓😥😢😭 Reginaldo Veloso? PRESENTE! 👏👏👏👏👏👏

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🧭 Concepção e elaboração do post 📝 José Ricardo 🖋️ professor e historiador.

📝 Fontes consultadas:

💻 Portais G1 e JC Online
📰 Jornais Diário de Pernambuco e Folha de Pernambuco

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